quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Estudante nega ter recebido tema de redação antes do Enem

O estudante Eduardo Ferreira Affonso Júnior, de 21 anos, não esconde o nervosismo. Chora muito, gesticula rapidamente, diz não ter conseguido dormir desde segunda-feira. Apontado por professores e colegas como o responsável pelo vazamento do tema da redação do Enem em Petrolina (PE), onde estuda para os vestibulares de Medicina que pretende prestar, o jovem de Remanso, cidade no norte da Bahia, nega ter sido o pivô da revelação, que pode causar a suspensão do exame.

'Eu estava chegando ao local da prova (a Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina, Facape), por volta das 11h15, quando ouvi um grupinho conversando que o tema da redação tinha vazado em São Raimundo Nonato (PI) e que seria algo sobre trabalho e escravidão', conta o estudante.

'Tudo o que fiz foi ir a um professor perguntar sobre o tema, caso fosse verdade. Não tenho nada com isso. Tanto que, na hora de fazer a prova, vi que a informação era verdade, fiquei nervoso, mas desanimei. Pensei: 'porque vou fazer essa prova se ela vazou e depois vou ter de fazer de novo?'', afirma. 'No fim, demorei quase duas horas para fazer só a redação, que faria em menos de meia hora. Sempre escrevi bem. Sofri e continuo sofrendo com isso tudo. Queria fazer a prova de novo.'

O relato de Affonso Júnior contrasta com os de alguns dos professores do Colégio Geo, que frequenta, e alguns colegas e amigos na cidade. 'Ele contou a um de nossos professores que tinha recebido um telefonema de um amigo do Piauí (de São Raimundo Nonato) dizendo que o tema seria esse', conta a diretora da escola, Simone Cerqueira Ramos Campos. 'Acho que não é coincidência, não foi um tema tão debatido este ano nas aulas. Estamos desiludidos, porque preparamos os alunos com dedicação para, no fim, haver um problema desses. O sistema é muito frágil.'

O estudante Denis Rodrigues de Sá, de 21 anos, colega de cursinho de Affonso Júnior, afirma ter presenciado a conversa dele com os professores, antes do início da prova. 'Ele falou com muita convicção, como se soubesse mesmo o tema', lembra. 'Nem foi discreto, foi na frente de todo mundo. Tanto que, rapidinho, formou uma multidão ali.'

Segundo a estudante Nara Moura, de 19 anos, que se diz amiga de Eduardo, o telefonema entre uma pessoa - seria uma mulher - em São Raimundo Nonato e ele existiu. 'Não sei porque ele agora fala que não partiu dele', alega.

Na PF

A Polícia Federal começou, na manhã de hoje (quarta-feira), a ouvir testemunhas do possível vazamento da prova, em Juazeiro. Pela manhã, o delegado Alexandre Lucena ouviu o vice-diretor do colégio, Marcos Antonio Freire de Paula, conhecido como professor Marquinhos - o responsável pela denúncia do vazamento -, e o coordenador do curso pré-vestibular da instituição, Nivaldo Moreira.

O estudante apontado como pivô do caso, porém, ainda não foi ouvido. 'Eu queria ir logo à Polícia Federal para esclarecer essas coisas todas', diz Eduardo. 'Minha família e a família da minha namorada já estão me acusando de um monte de coisas. Minha namorada brigou comigo. Tudo por causa dessa confusão.'

Segundo Marquinhos, o delegado o instruiu a evitar tocar no assunto durante as investigações. 'A PF nos procurou depois de ver, pela imprensa, que poderia ter havido um vazamento das provas do Enem aqui', conta. 'Não tenho certeza de absolutamente nada, mas não acredito em coincidências.'

Durante o dia, estudantes protestaram contra a forma como o Enem foi realizado - com problemas no gabarito no primeiro dia de provas e possível vazamento no segundo -, em uma caminhada pelo centro de Petrolina. 'Queremos pressionar a Univasf (Universidade Federal do Vale do São Francisco), que usa apenas o Enem para selecionar seus alunos, a adotar outro modo de avaliação dos estudantes', diz a proprietária do Curso Pré-Vestibular Tema, Vera Lúcia Medeiros.

Após a caminhada, o grupo, de cerca de 60 estudantes e professores, foi recebido pelo prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio (PMDB), que garantiu que vai marcar uma reunião com a reitoria da universidade para avaliar o tema.

domingo, 7 de novembro de 2010

MEC pode aplicar outro Enem para prejudicados por erro em prova

O Ministério da Educação (MEC) pode aplicar outro exame do Enem para candidatos prejudicados no sábado pelo erro de montagem no caderno de prova amarelo. Essa é uma das possibilidades contempladas na promessa do MEC de analisar 'caso a caso' queixas de estudantes, mas só será adotada em última hipótese. O Estadão.edu apurou que, pelo balanço oficial, cerca de 20 mil alunos receberam cadernos com problemas, mas a maioria conseguiu trocá-los. Dessa forma, a estimativa é de que o número de candidatos com direito à nova prova seja bem inferior, de aproximadamente 2 mil.

Como é de praxe em vestibulares, os fiscais têm um estoque de segurança para repor exames com problemas. No caso do Enem, essa margem era de 10%, do total de provas impressas. Havia ainda a possibilidade de recorrer aos cadernos dos alunos que deixaram de fazer o Enem no sábado (cerca de 27% do total de 4,6 milhões de inscritos).

Apesar de o MEC considerar que a maioria dos alunos que receberam o caderno com erro de montagem foi alertada pelos fiscais e pôde fazer a troca, o Estadão.edu identificou hoje na porta dos locais de exame pelo menos três vestibulandos (em Curitiba e Belo Horizonte) que disseram ter recebido um segundo caderno com problemas.

A confusão aconteceu porque, para evitar cola no local dos exames, o Enem tem quatro versões do caderno de prova: amarelo, azul, rosa e branco. As questões são as mesmas, o que varia é a ordem. Em milhares de casos, por um erro no encarte, folhas do caderno de prova amarelo estavam misturadas a folhas da prova branca. Com isso, estudantes se depararam com textos repetidos ou questões ausentes. Somando os dois fatores, vestibulandos como Henrique Reis, de Belo Horizonte, por exemplo, identificaram problemas em 31 das 90 questões do exame.

Estudantes que fizeram a prova no sábado enfrentaram outro tipo de problema, a inversão do cabeçalho do cartão-resposta entregue a todos os candidatos. Embora o número das 90 questões no caderno de prova e no cartão coincidissem, havia discrepância no cabeçalho do gabarito. As 45 questões de Ciências Humanas estavam sob a tarja Ciências da Natureza e vice-versa.

O Inep afirmou que avisou fiscais para orientar os alunos. Mas a imprensa divulgou vários casos de estudantes que não foram alertados sobre o erro ou então só receberam o aviso horas depois do início da prova. Muitos deles afirmaram que se confundiram ou não tiveram tempo de fazer a marcação correta. O MEC admitiu que vários estudantes podem ter sido prejudicados e prometeu abrir espaço no seu site para receber queixas de candidatos, que serão analisadas caso a caso.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Saiba mais sobre as quatro áreas de conhecimento cobradas pelo Enem

Desde o ano passado, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passou a cobrar o conteúdo do ensino médio dividido em quatro áreas do conhecimento: linguagens, códigos e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; e ciências da natureza e suas tecnologias.

No sábado (6), as provas ocorrerão das 13h às 17h30, com questões de ciências humanas e suas tecnologias e ciências da natureza e suas tecnologias. No domingo (7), a prova será realizada das 13h às 18h30, com perguntas sobre linguagens, códigos e suas tecnologias, além de redação, e matemática e suas tecnologias. Segundo o Inep, 4,6 milhões de candidatos estão inscritos no exame.

O G1 ouviu o presidente do Henfil, Mateus Prado; o coordenador do cursinho Ernani, no Rio de Janeiro, Ernani Ferrara; e o coordenador do cursinho pré-vestibular da Universidade Federal de Santa Catarina, Otávio Auler Rodrigues, sobre as quatro áreas cobradas no exame.

Para se dar bem, segundo Ernani Ferrara, o aluno precisa estar atualizado, porém não deve decorar os assuntos. “A informação precisa ser aprendida e com prazer, além de saber qual é a importância do assunto para o dia a dia.”

Matemática e suas tecnologias
Nesta área, a prova vai cobrar conhecimentos de matemática aplicados no cotidiano. Segundo os educadores ouvidos pelo G1, devem cair questões contextualizadas que exigem domínio sobre o sistema internacional de medidas, grandeza em comparação, álgebra, além de interpretação de gráficos e tabelas.

As perguntas, segundo Otávio Rodrigues, vão buscar a interpretação dos problemas matemáticos, fugindo da decoreba. “Será uma prova de raciocínio lógico, uma matemática diferente da que estamos acostumados na escola. Cobra conteúdos mínimos”, diz Mateus Prado.

Ciências humanas e suas tecnologias
Nesta área, a prova vai cobrar conhecimento de história, sociologia, geografia e filosofia. Devem aparecer questões sobre evolução tecnológica, conflitos territoriais, uso de recursos naturais, além de temas ligados à conquista de direitos como o Estatuto Racial, da Criança e do Adolescente e do Idoso, entre outros.

“São temas da atualidade, do período pós-guerra, a partir de 1945. Outra tendência é ter um tom mais critico e reflexivo”, afirma Rodrigues.

Linguagens, códigos e suas tecnologias
Nesta área, a prova vai cobrar conhecimento de português, literatura, artes, educação física e pela primeira vez, línguas. O aluno poderia optar entre inglês e espanhol.

Caem mais questionamentos que exigem interpretação do que gramática, segundo Mateus Prado. Ainda de acordo com ele, devem aparecer perguntas sobre manifestação cultural, modernismo e novas tecnologias.

Neste campo, a exemplo do ano passado, devem aparecer textos alternativos de revistas segmentadas, além de charges. “O aluno que tem uma visão critica, que leu durante o ano bons jornais e portais, vai sair na frente”, diz Otávio Rodrigues.

Ciências da natureza e suas tecnologias
Nesta área, a prova vai cobrar conhecimentos de química, física e biologia. Novas formas de energia, índices que retratam a qualidade de vida e perguntas que comparam o consumo de energia dos produtos devem aparecer neste campo, além de temas sobre preservação ambiental, segundo os educadores.

A poucos dias do exame, Ernari Ferrara, diz que ainda dá tempo de se preparar. “Quando assiste ou lê uma notícia o aluno deve buscar a relação com varias matérias. O desafio é saber como ela pode ser aplicada no dia a dia.”