segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Compartimentação Topográfica

A compartimentação topográfica corresponde à individualização de um conjunto de formas com características semelhantes, o que leva a se admitir que tenham sido elaboradas em determinadas condições morfogenéticas ou morfoclimáticas que apresentem relações litoestratigráficas ou que tenham sido submetidas a eventos tectodinâmicos. A interpenetração das diferentes forças ao longo do tempo leva à caracterização das formas de relevo, da situação topográfica ou altimétrica e da existência de traços genéticos comuns como fatores de individualização do conjunto. Assim, a evolução do modelado terrestre, cujas particularidades proporcionam a especificidade de compartimentos, resulta do seguinte jogo de forças contrárias:
• Agentes internos, comandados pela estrutura, considerando o comportamento litoestratigráfico e implicações de natureza tectônica, e;
• Agentes externos, relacionados aos mecanismos morfogenéticos, em que os componentes do clima assumem relevância.
A expressividade dessas forças no modelado depende tanto da intensidade quanto da duração dos fenômenos. Para a elaboração de superfícies aplainadas, por exemplo, torna-se necessário um trabalho prolongado de erosão, associado ao intemperismo físico, em condições tectônicas e climáticas relativamente estáveis Dessa forma, a elaboração dos pediplanos vincula-se a uma determinada condição climática ao longo de um tempo geológico, e a uma certa estabilidade tectônica. Esse comportamento justifica a gênese dos extensos pediplanos de cimeira ainda presentes no modelado brasileiro, como a unidade denominada "Chapadas do Distrito Federal", em processo de dissecação. A dissecação atual ou subatual encontra-se associada ao entalhamento da drenagem que contou com o soerguimento do relevo, ou seja, com os mecanismos epirogenéticos positivos, responsáveis pela reativação da erosão remontante e conseqüente incisão dos talvegues.
Assim sendo, a compartimentação topográfica evidencia o resultado das relações processuais e respectivas implicações tectônico-estruturais registradas ao longo do tempo, considerando o jogo das componentes responsáveis pela elaboração e reelaboração do modelado, em que as alternâncias climáticas e as variações estruturais tendem a originar formas diferenciadas. Dessa maneira, os efeitos paleoclimáticos e eventos tectônicos em determinadas condições estruturais, se constituem em pilares de sustentação para a compreensão do modelado atual, cuja semelhança ou similitude de formas permite a identificação de um compartimento, independente da escala de estudo.
Um dos referenciais para o estudo dos compartimentos refere-se às unidades taxonômicas espaciais e temporais, ou seja, à dimensão espacial da área de estudo e fatores genéticos registrados ao longo do tempo, para que sejam definidas as variáveis imprescindíveis à compreensão das formas fisionomicamente semelhantes, em seus tipos de modelados. Nesse caso é considerada não apenas a dimensão espacial, mas também o número de variáveis necessárias para explicar o modelado. Como exemplo, no segundo nível taxonômico adotado por Ross (1992), visto no capítulo anterior, as unidades morfoesculturais geralmente são identificadas na escala ao milionésimo; já no quinto táxon, o estudo das vertentes só se torna possível numa escala bem maior, preferencialmente entre 1:5.000 até 1:20.000. Enquanto na primeira situação a estrutura geológica e efeitos tectônicos assumem relevância para explicar os traços gerais do modelado, no estudo das vertentes os processos morfogenéticos pretéritos e atuais, sobretudo os morfodinâmicos, considerando as derivações antropogênicas, assumem destaque.
Assim, pode-se constatar a importância da compartimentação do relevo, não só para o entendimento da paleogeografia, mas também como forma de oferecer subsídios ao uso e ocupação do modelado na escala do tempo histórico. É evidente que dispõe-se de recursos de apropriação para os diferentes compartimentos do relevo, independente das supostas restrições ao uso ou ocupação, contudo, independentemente das potencialidades e possibilidades tecnológicas, deve-se atentar para o significado do “custo social” de tais investimentos. A apropriação racional do relevo, enquanto suporte ou recurso, além de reduzir os possíveis impactos ambientais, possibilita a destinação de investimentos para setores sociais emergentes, com vistas à perspectiva de uma “economia solidária”.
Dentre os subsídios que a compartimentação do relevo oferecem destacam-se a vulnerabilidade e a potencialidade. Por vulnerabilidade, na perspectiva geomorfológica, entende-se a suscetibilidade erosiva do relevo, tanto em condições naturais quanto prognosticáveis em função de determinados usos ou ocupações, tendo o compartimento topográfico como suporte ou recurso. A potencialidade, conforme o próprio nome indica, refere-se a determinadas individualidades que podem ser racionalmente apropriadas para fins específicos, como a destinação de áreas portadoras de depósitos de cobertura com fertilidade natural às atividades agrícolas, ou ainda morfologias especiais, como as cársticas e falhadas, voltadas a explorações turísticas. Aliando-se os estudos sobre os diferentes graus de vulnerabilidade do relevo a suas potencialidades, torna-se possível produzir mapas com indicações para usos sustentáveis ou destinados à proteção ambiental.
A metodologia utilizada para a compartimentação do relevo depende da dimensão ou escala do estudo, a qual deverá ajustar-se a determinado nível taxonômico. A metodologia para o Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal, proposta por Becker & Egler (1997), sugere, por exemplo, como subsídio à gestão do território, o estudo da vulnerabilidade da paisagem natural e da potencialidade social, considerando uma base cartográfica na escala 1:250.000, portanto, de nível regional. A caracterização da vulnerabilidade natural fundamenta-se nos conceitos ecodinâmicos de Tricart (1975), tendo o relevo como componente básico.
A classificação da paisagem considera três situações quanto ao grau de estabilidade: meios estáveis, meios instáveis e intergrades . A classificação do “meio” encontra-se diretamente associada à relação pedogênese-morfogênese. A potencialidade social, além de levar em conta as condições para o desenvolvimento humano (fatores dinâmicos, restritivos e intermediários), considerando a potencialidade humana, produtiva e institucional, incorpora parâmetros do potencial natural, como recursos minerais, aptidão agrícola dos solos e a cobertura vegetal. O relevo em tal situação, na escala prevista (1:250.000), seria analisado com base nos três primeiros táxons propostos por Ross (1992).
O Projeto Radambrasil aperfeiçoou, ao longo dos anos, importante contribuição metodológica para a caracterização dos padrões de formas (quarto táxon). Fundamentado na dissecação do relevo, o mapeamento leva em consideração as dimensões interfluviais e o grau de
aprofundamento da drenagem, o que permite inferir sobre as relações morfogênese-pedogênese mencionadas: enquanto no domínio de formas tabulares prevalece a pedogênese, considerando a superioridade da infiltração sobre o escoamento, no domínio de formas aguçadas, ao contrário, predomina o escoamento. O grau de convexização reflete no jogo das componentes tratadas (pedogênese-morfogênese), o que pode ser justificado pela intensidade da incisão da drenagem, cuja densidade reflete na dimensão interfluvial.
A compartimentação do relevo em escala grande, 1:5.000 até 1:20.000, referente ao quinto táxon, individualiza os domínios de determinadas formas do relevo, tendo a vertente como elemento de representação. Nesse caso, além da dissecação relacionada à própria densidade da drenagem, deve-se observar o significado geométrico e morfométrico das vertentes, o comportamento da estrutura superficial, e os elementos atinentes à fisiologia da paisagem. Dentre estes destacam-se o diagnóstico do uso e ocupação e os impactos relacionados aos processos morfodinâmicos, com o intuito de proporcionar melhor caracterização da vulnerabilidade do relevo à erosão. O mesmo tratamento ou a mesma intensidade de estudo deve ser destinada ao diagnóstico da potencialidade do relevo na escala em questão. A interposição desses parâmetros proporcionará a elaboração de uma “carta de síntese”, subsidiando a gestão do território.
Embora considere-se, para os objetivos mencionados, a compartimentação do relevo como suporte, não se deixa de utilizar os demais níveis de abordagem geomorfológica, como a estruturação superficial e a fisiologia da paisagem, comprovando a necessária visão integrada dos diferentes componentes nos estudos geomorfológicos.
A compartimentação topográfica ou do relevo depende dos objetivos e do nível de abordagem proposto para o estudo. Abreu (1982) reporta-se a quatro obras julgadas fundamentais para a classificação dos fatos geomorfológicos: Birot (1955), Cailleux & Tricart (1956), Tricart (1965) e Ab´Sáber (1969). A proposição de Cailleux & Tricart (1956) foi retomada por Tricart (1965) com ampliação de 7 para 8 ordens de grandeza, sendo que a valorização excessiva da escala obscureceu algumas considerações sobre a essência do objeto da classificação. “Tricart (1965) acaba levando o leitor a julgar que a essência do objeto de estudo da disciplina se altera com a escala, daí ser necessário adaptar o método à escala de abordagem. Isto fica particularmente nítido quando ele trata do mapeamento geomorfológico, questão para a qual a classificação dos fatos é fundamental” (Abreu, 1982, p. 64). A contribuição dada por Ab´Sáber (1969) foi a de proporcionar o ordenamento escalar dos fatos estudados em três níveis de abordagem, revelando uma flexibilidade que permite ajustamento mais satisfatório em relação à essência dos fatos, tanto do ponto de vista espacial quanto temporal.
A compartimentação topográfica como primeiro nível de abordagem da proposta sistematizada por Ab´Sáber (1969), assim como de outros autores
1 , fundamenta-se nas relações taxonômicas.
O Projeto Radambrasil empregou uma metodologia de compartimentação do relevo tendo como base a ordenação dos fatos geomorfológicos fundamentando-se no princípio de grupamentos sucessivos de subconjuntos constituídos de tipos de modelados.
Para Mamede et al (1983) no mapeamento da Folha SE.22 Goiânia, as Unidades Geomorfológicas correspondem à compartimentação do relevo identificada por um conjunto de matizes de mesma cor. A função da compartimentação é subdividir o relevo em unidades que permitam tratamento individual. Essas unidades são analisadas por ordem de grandeza, e representadas por meio de um conjunto de formas de relevo que apresentam similitude e posição altimétrica individualizada. Essas características significam que os processos morfogenéticos que atuaram numa unidade são diferentes dos que agiram nas outras. Alguns destes processos foram predominantes em decorrência de condições litológicas, estruturais ou climáticas. “O conjunto dos indicadores mencionados revela ainda a energia da erosão a que foi submetida à unidade, seja no passado seja no presente” (Mamede et al, 1983). A denominação das unidades geomorfológicas obedece, via de regra, à toponímia regional, sendo geralmente precedida de termos geomorfológicos amplos, como planície, planalto e depressão. As Unidades Geomorfológicas podem ser divididas em subunidades que identificam particularidades regionais, pelo posicionamento altimétrico e por fatores genéticos. Como exemplo, a Unidade Geomorfológica Planalto Central Goiano (Folha SE.22) apresenta as seguintes subunidades: Planalto do Distrito Federal, caracterizada por superfícies erosivas, pediplanadas ( 1.200 metros ); Planalto do Alto Tocantins-Paranaíba ( 900 a 1.000m), descontínuo em área e envolvendo feições geomorfológicas bastante diversificadas; Planalto Rebaixado de Goiânia ( 350 a 850m), caracterizado em relação aos relevos vizinhos por diferenciação nas suas posições altimétricas relativas e na variação litológica; e Depressões Intermontanas, correspondente à superfície rebaixada e suavemente dissecada, com altitudes médias que chegam a 700 metros .
As Unidades Geomorfológicas no exemplo utilizado, enquanto compartimentos, podem ser tomadas como elementos de referência da evolução do relevo.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Com uma sala para as atividades, UFPE lança curso de Dança

Por Rodrigo de Luna
Com apenas uma sala específica para os alunos desenvolverem suas atividades diárias, por enquanto, o novo curso de Dança, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), traz esperança para os candidatos a uma vaga e expectativas para os professores. Os alunos ocuparão, inicialmente, o local utilizado pelo curso de Artes Cênicas atualmente.
Uma das idealizadoras do projeto, a professora Rose Mary Martins, explica que essa é uma nova habilitação do curso de Licenciatura em Educação Artística. Dança irá funcionar junto às habilitações de Artes Visuais e Artes Cênicas, todas voltadas para formação de professores. Ela afirma que a nova habilitação surgiu de uma demanda externa, da vontade de muitos profissionais que já atuavam na área.
“Os integrantes do Movimento de Dança Recife trouxeram a primeira idéia de formação do curso no Estado, e nós, depois de muito empenho, estamos conseguindo implantá-la”, diz. Reconhecendo as dificuldades, Rose Mary completa que foram planejadas duas formas de oferecer a habilitação: o modelo ideal e o modelo real. É com esse segundo que o curso vai começar.
A sala, segundo a coordenação do novo curso, acomoda 25 alunos com folga. Mas será feito um esforço para que todos os 30 estudantes possam ter aulas sem prejuízos. De acordo com o projeto Reuni, que irá expandir as vagas nas universidades federais nos próximos anos, estima-se que até 2010 uma nova sala seja construída por ano, totalizando quatro salas de dança. “O Centro de Artes surgiu em 1975, mas, hoje, inchou muito. Já ficamos sabendo que nosso departamento ocupará o espaço do curso de Música, que deve ganhar um novo prédio”, ressalta Rose Mary.
Cada um dos alunos terá parte do treinamento de bailarino ou coreógrafo. Eles não poderão ser considerados bailarinos porque a carga horária de aulas práticas e específicas para esses profissionais deveria ser bem maior do que a que a graduação oferecerá. O coordenador do curso, Arnaldo Siqueira, diz que uma formação universitária é uma boa base para quem quer seguir a carreira artística.
No total, 60% das disciplinas serão práticas e, 40%, teóricas, e haverá uma complementaridade entre as duas áreas. Serão aulas de estudo do corpo, expressão artística, dança prática, estudos críticos da dança, que podem englobar áreas da dança clássica ou contemporânea. Em relação aos professores capacitados para ofertar as disciplinas, hoje, só existe um: o coordenador do curso. Mas ele completa que, até o fim do ano, três novos professores devem chegar, especializados nas áreas de Teoria e História da Dança, Técnica de Dança e Dança e Educação. Em 2009, mais dois professores completarão o quadro de docentes para a primeira turma.
A participação de profissionais da Dança no curso deve ser muito intensa, inclusive com professores colaboradores. O diretor da Compassos Cia de Dança, Raimundo Branco, diz acreditar nisso. Ele defende que a habilitação qualifica o professor de Dança, no entanto, não deve excluir profissionais que já têm espaço consolidado no mercado e não possuem curso superior. “Para isso não acontecer, é fundamental a criação de uma legislação específica para a área, que trate, principalmente, do piso salarial da categoria, para que os professores não sejam explorados”, destaca.
Quanto às expectativas para o curso, Branco é otimista: “Tem muita gente boa que está inscrita para tentar uma vaga. E se o curso atender a essas pessoas com a qualidade que elas merecem, sairão excelentes profissionais da universidade”.
PREPARAÇÃO E FORMAÇÃO
A estudante Ailce Moreira, 21 anos, se prepara para realizar o sonho que surgiu há cerca de quatro anos: viver da dança. Sobre as disciplinas do curso, ela ainda não tem muitas informações, mas, diferente de muitos candidatos, tem a consciência de que se formará como professora de Dança e, não, como bailarina. “Para quem pretende ser bailarina, como eu, o curso universitário será uma ótima base. No entanto, não é o suficiente para formar esse profissional”.
A estudante Janaina Gomes está no sexto período de Artes Cênicas. Bailarina da Compassos Cia de Dança, a estudante ficou balançada para mudar de curso na universidade. Ela afirma que muitas cadeiras entre as duas habilitações são as mesmas ou parecidas, por isso, pretende se formar em cênicas, estudar disciplinas de dança e garantir o diploma nas duas áreas. “Até um tempo atrás, não havia perspectivas para quem era dessas duas profissões. Hoje, acredito que o mercado é a gente que faz. E a arte, em Recife, está fervendo.”, diz.
TESTE DE APTIDÃO
É importante que o candidato a uma das vagas saiba que o Teste de Aptidão para Dança é eliminatório. No dia 26 de outubro, cada candidato, individualmente, vai se apresentar para uma banca examinadora, composta por profissionais de Dança. Será um conjunto de atividades e exercícios corporais, acompanhados ou não de música, com o objetivo de avaliar o potencial do candidato para se expressar por meio da dança.

Os aspectos observados serão: postura, domínio corporal, ritmo, orientação espacial, percepção e memória do movimento, além de criatividade, comunicação e versatilidade. Passadas essa parte, o candidato poderá se sentir mais próximo de sua vaga.
CURSO: DançaDURAÇÃO: 4 anosHORÁRIO: NoiteVAGAS: 30 (1ª Entrada)
O QUE É: O curso estimula o desenvolvimento das competências críticas, metodológicas e criativas nos alunos, para que estes possam atuar prioritariamente na educação básica, agindo como formadores no campo do ensino da dança.MERCADO DE TRABALHO: Atua como professor em escolas e academias de dança, fundações e centros culturais, escolas públicas e privadas da educação básica.SALÁRIO: a partir de R$10 a hora/ aula (valores de hoje, pois ainda não existe curso superior de dança no Estado)